Nesta terça-feira (21), o mundo todo assistiu atônito, o que nós brasileiros estamos acostumados a ver todos os dias nas redes sociais no Brasil: o discurso controverso do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, na 76º Assembleia Geral da ONU, em Nova York (EUA). O Brasil é encarregado de abrir oficialmente a fala dos presidentes mundiais desde 1947 e esta é a 3º vez que Bolsonaro discursa na assembleia.

Bolsonaro chega na ONU sendo o único chefe de estado do G20 não-vacinado contra Covid-19 dos demais líderes do bloco; mesmo a organização exigindo, sob o que se chamou de “sistema de honra” que todos os participantes estivessem vacinados. Na última segunda-feira (20), o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, falou em rede aberta que a cidade estava com protocolos em vigor, e que precisava enviar uma “mensagem” a todos os lideres mundiais, principalmente Bolsonaro, do Brasil, que se pretendesse vir, precisaria estar vacinado. “Se não quiser se vacinar, nem precisa vir”, disse o democrata novaiorquino.  

Diante de representantes do mundo todo, o presidente não se conteve e fez mais um dos seus discursos costumeiros, como das lives destinadas aos seus apoiadores negacionistas. Recheada de mentiras, fake news e controvérsias a cada frase citada, Bolsonaro deixa claro para o mundo o seu “transtorno dissociativo”, criando falas distópicas. Sem nenhum compromisso com a realidade vivida em nosso país, usou de linguagem coreografada para o seu “cercadinho da Alvorada” maquiada de discurso de “chefe de Estado importante” que ele acredita ser.

Abrindo o discurso, o presidente já começa sugerindo que a imprensa distorce ações do seu governo. “Venho mostrar um Brasil diferente daquilo publicado em jornal ou visto na televisão”, diz Bolsonaro, pretendendo com isso descredibilizar a imprensa sobre seus atos como chefe da nação. Tentando passar uma imagem de moderado e responsável, orgulha-se em dizer que durante o seu mandato (2 anos e 8 meses) não houve nenhum caso concreto de corrupção, talvez “esquecendo-se” dos casos de rachadinhas que acompanham sua trajetória politica e que foi “herdado” por seus filhos. 

Continuando a fala, o presidente entra em uma série de frases de efeito que aparentemente não querem dizer nada, mas que nas entrelinhas falam muito, e para um público muito mais seleto, os extremistas. Com frases como, “o Brasil tem um presidente que acredita em Deus, valoriza a família e deve lealdade ao seu povo”, “estávamos à beira do socialismo” ou “o BNDS era usado pra financiar obras em países comunistas”, Bolsonaro dá um recado para os conservadores extremistas do mundo, num alinhamento ideológico com as novas ondas do fascismo, que saem das sombras nesse momento no mundo graças a representantes como o mesmo.

Seguindo a linha editada, talvez por ele mesmo, o discurso procura vender uma imagem de um Brasil irreal, pronto para investimentos, com infraestrutura e legislação seguras para o empreendedor estrangeiro. O que soa estranho é que minutos antes, o presidente disse que antes do seu governo, as estatais davam prejuízos, “mas agora dão lucros”, numa defesa rara da força das nossas empresas estatais, Bolsonaro logo em seguida orgulha-se do leilão do saneamento do estado do Rio de Janeiro, assunto irrelevante para o tema de uma assembleia na ONU.

O momento fica crítico quando o presidente resolve entrar no assunto de desenvolvimento sustentável, proteção ambiental e Amazônia. As distorções de informação chegaram a níveis jamais vistos num discurso de um presidente. Bolsonaro afirma que “nenhum país do mundo possui uma legislação ambiental tão completa como a nossa”, mas sabemos muito o quanto essa legislação é desrespeitada pelo próprio, como por exemplo na gestão do seu ex-ministro Ricardo Salles. 

Biomas como a Amazônia e o Cerrado ainda estão em chamas nesse exato momento, garimpo ilegal invade terras indígenas demarcadas e a grilagem corre a solta com a conveniência do governo quando ele cria e defende o PL2633/20 intitulado ‘PL da grilagem”. Um dos grandes contribuintes para o aumento do desmatamento na Amazônia é justamente o agronegócio, no qual o presidente fez questão de elogiar em sua fala hoje, dizendo ser ele “moderno e sustentável” de baixa emissão de carbono. Com exceção da agricultura familiar, vemos no “Brasil latifundiário” raríssimos exemplos de sustentabilidade e baixa emissão de carbono. Vemos sim, avanço de pastagens em região de florestas, comprometimento de mata ciliares por grandes plantações, poluição hídrica por grandes criatórios de animais para abate, entre outros.

Nesta terça, o país se tornou “pária internacional”, com as falas do presidente. Cada vez mais isolado e sem voz ativa no mundo. Um prejuízo imenso para nossa economia e nossa imagem como nação.

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